Na minha
análise sobre o VGL eu reforcei a apresentação de Shadow of the Colossus
dizendo como a sua música era cativante e que o game era provavelmente um dos
próximos da minha lista dos que ainda não joguei. Então, recentemente, pintou a
oportunidade de eu comprar mais um jogo de PS3. Sabe aquela sensação quando
você olha um jogo e sabe que vai gostar? Então, Shadow of the Colossus é esse
tipo de jogo. O meu tipo de jogo. Foi
o que eu escolhi. E, de quebra, ele ainda vinha num pacote junto com o ICO,
outro título da mesma empresa.
O que eu
ainda não sabia era que eu havia adquirido um dos melhores games já feitos
pelas mãos do homem. Shadow of the Colossus é uma aventura imensa, com uma
premissa linda, gráficos de deixar o queixo caído e uma trilha sonora
estupenda. Possui um dos melhores feelings
que eu já tive em qualquer jogo e ultrapassa todas as barreiras daquilo que é
épico, empolgante, divertido e mágico.
O clássico
começa com uma cutscene simples e
calma, mostrando um garoto andando a cavalo por um desfiladeiro a caminho da
Terra Proibida. É possível ver que o cavalo (que na verdade é uma égua) está
carregando outro objeto além do garoto – algo que parece um corpo envolvido em
um cobertor. Depois de passar por uma gigantesca fenda em uma montanha, os três
chegam a uma ponte colossal que leva a um templo no centro da Terra Proibida.
Eles atravessam a ponte e chegam ao templo, onde há um amplo salão com oito
estátuas de cada lado e um altar no final. O jovem desce do cavalo e leva o
corpo coberto por panos até o altar. Ele retira os panos, revelando uma mulher
de cabelos compridos. Ela chama-se Mono, e ele, Wander. Não se sabe qual a
relação entre os dois, tampouco a causa da morte de Mono. Wander reza para uma
entidade chamada Dormin pedindo que a vida de Mono fosse devolvida. A entidade
responde dizendo que, pelas leis dos mortais, quando um humano morre a sua alma
jamais retorna. Porém, se todos os dezesseis ídolos naquele salão fossem
destruídos, talvez isso não fosse impossível. Só que os ídolos não podem ser
destruídos por um mortal. O único jeito de se fazer isso é matando os colossos
dos quais os ídolos representam, mas Wander teria de fazer isso a um preço
altíssimo. Determinado a salvar a amada, ele aceita o desafio sem hesitar, não
sabendo quais as consequências que isso poderia trazer mais tarde.
A premissa
é simplória, mas original. Apesar de o seu objetivo ser salvar a vida de uma
mulher, não é como se ela tivesse sido raptada por um vilão nefasto. Ela está
morta. E o único a quem o protagonista pode recorrer agora é uma entidade
invisível de índole duvidosa. O protagonista Wander não é ninguém. Ele anda
desajeitadamente e mal sabe usar uma espada. Não passa de
um garoto normal metido a heroi, alguém desesperado para salvar a amada e que
não vê opções se não fazer aquilo que considera correto. No decorrer do jogo,
Wander vai incorporando as sombras demoníacas aprisionadas no interior de cada
colosso, o que vai deixando-o mais forte, mais poderoso, mas ao mesmo tempo
menos humano. Ao longo desta aventura, o garoto estará disposto a sacrificar
tudo – tudo mesmo – apenas para salvar aquela a quem ele ama. Se visto deste ponto de vista, Shadow of the
Colossus pode ser considerado uma bela história de amor.
Na quest
principal do jogo, seu objetivo é caçar, encontrar e matar todos os dezesseis
colossos para devolver a alma a Mono. Os colossos são criaturas gigantescas que
vivem em lugares diversos na Terra Proibida. Cada colosso possui um ou mais
pontos fracos, que aparecem na forma de um sigilo brilhante e geralmente são
localizados na cabeça ou na barriga. Não se sabe ao certo de onde essas
criaturas vieram ou porque estão lá, se são naturais ou foram criados por
alguém, se são realmente esses seres vivos meio orgânicos meio pedra que
parecem ser. De fato, eles possuem um propósito no mundo, mas este só nos é
revelado ao final do game.
Encontrar
esses gigantes é fácil. Basta levantar a espada para cima que ela emitirá oito
raios de luz que se fortalecem ao sol e enfraquecem nas sombras. Ao apontar
para o local onde o colosso vive, todos os raios irão convergir na mesma
direção, indicando o caminho a ser seguido. Matá-los já é outra história. Quase
todos eles precisam ser escalados e cada um exige uma estratégia diferente para
se fazer isso. Alguns até possuem mais de uma estratégia, dando liberdade de
raciocínio ao jogador (e um elemento “puzzle” às batalhas). As únicas armas que
você pode usar são uma espada e um arco e flecha, apesar de existirem várias
outras que podem ser adquiridas nos modos subsequentes. O arco e flecha tira um
mínimo de vida dos colossos, servindo apenas para chamar a sua atenção,
irritá-los ou distraí-los. Em alguns casos, disparar uma flecha contra eles irá
desencadear uma ação que ajudará a escalar o seu corpo. Porém, para matá-los, a
arma ideal é a espada. Ela tira uma quantidade considerável da barra de vida
dos colossos, se for um ataque bastante carregado, e faz o sigilo brilhar
quando está próximo a ele, tornando-o visível. O engraçado é que, apesar de
serem todos perigosos, nem todos os colossos são agressivos. Alguns irão te
atacar no momento em que fizerem contato visual. Outros irão atacar apenas se
forem perturbados. E as lutas contra os colossos ainda vão ficando cada vez
mais difíceis, o que é bom, considerando que, mesmo que todo jogo possua
dificuldade crescente, a maioria dos jogos que joguei mantinham o mesmo nível
de dificuldade do início ao fim. Isso não acontece em Shadow of the Colossus.
Os chefões não necessariamente seguem essa linha crescente de dificuldade,
alguns são mais fáceis do que o anterior, mas nesse quesito posso dizer que o
jogo agrada bastante e nunca vai fazer você sentir que o desafio é fácil ou
pequeno demais.
Matar
colossos não é só uma tarefa aparentemente impossível para alguém como o Wander.
É também um fardo muito pesado, tanto para o personagem quanto para o jogador.
A aniquilação de muitas dessas incríveis criaturas pode transmitir tanto uma
sensação de realização e alívio quanto um sentimento de pena e culpa. A maioria
deles estava apenas vivendo sossegadamente até você chegar e acabar com tudo.
Alguns pareciam até estar em estado de hibernação. Tudo isso faz você se
perguntar se realmente vale a pena continuar lutando; se as suas motivações não
são egoístas; se aquele que está lhe ajudando pode ser realmente confiável, e
isso traz uma das experiências mais emocionantes que eu já tive em qualquer
jogo.
De tudo no
jogo, o que eu mais gostei foi do design
dos colossos. Todos eles parecem seres anciãos, revestidos por uma armadura de
pedra caindo aos pedaços que dá um ar de antigo e abandonado. Em algumas partes, há uma penugem densa e orgânica que pode ser agarrada pelo personagem e o ajuda a subir pelo seu corpo,
indicando que há algo vivo por debaixo da camada de pedra. Também
é possível escalar a armadura de rocha dos colossos, mas apenas nas partes que possuírem bordas.
Falando em
ancião, tudo no jogo parece ser muito antigo. E é justamente essa uma das
coisas que eu mais gostei, dessa sensação de que você está em uma terra antiga
e distante, longe da civilização e isolada do mundo. Os cenários são belos e
naturais, mas ao mesmo tempo repletos de construções em ruínas, como se
pertencessem a uma civilização perdida. Isso tudo dá ao jogo uma atmosfera de
isolamento e seriedade maior do que em qualquer game que eu já tenha jogado.
Quando você chama pelo cavalo, se ele estiver muito longe, Wander emitirá um
assobio vazio e melancólico, o que se adequa muito ao final do jogo.
O overworld de Shadow of the Colossus é o
maior que eu já vi em toda a minha vida. Ele é vasto, imenso e parece não acabar
nunca. Só que não há nada para se explorar lá. Toda a “exploração” do jogo se
resume à caçada aos gigantes. Enquanto a maioria dos jogos de aventura te
convida a sempre sair do caminho pré-definido e seguir a sua própria trilha, em
SotC não há praticamente motivo nenhum para não ir direto ao ponto. Eu diria
que o game é muito linear nesse sentido. Tudo o que você faz é caçar e matar
colossos. E você também não pode matá-los na ordem que quiser, há uma ordem
rígida a ser seguida. Depois de matar o primeiro colosso, você automaticamente
volta para o templo inicial e começa tudo de novo. Repita este processo 16
vezes e você termina o jogo.
Muitas
vezes eu me peguei saindo da rota por causa do senso de exploração que
desenvolvi jogando Zelda. Só que aí eu me lembrava de que não há nada para ser
explorado. O máximo que eu iria encontrar era um beco sem saída ou uma caverna
vazia e sem vida. Para ser franco, seria injustiça dizer que não há
absolutamente nada a ser explorado no jogo inteiro. Até há, porém essa exploração
não é obrigatória e muito menos óbvia. Espalhados pelo overworld existem vários animais como falcões, pombas, morcegos,
peixes e até jabutis. Um dos animais mais comuns é um lagarto que se separa em
duas espécies: a de cauda preta e a de cauda branca. Se você matar os lagartos,
é possível comer a sua cauda. Comer os de cauda preta apenas recupera uma
fração da sua vida. Já comer as caudas brancas faz aumentar a sua barra de
estamina.
É, você tem
uma barra de estamina, que na verdade não é uma barra, mas um círculo rosa que
fica em cima da sua barra de vida. Você gasta estamina pulando e escalando, e
se a sua estamina acabar durante uma escalada, você obviamente irá cair.
Felizmente, alguns colossos possuem plataformas e partes planas em seus corpos
onde dá para descansar e recuperar a energia perdida. A sua vida também sobe
sozinha, se você ficar algum tempo sem levar dano. Aliás, também é possível dar
upgrade na barra de vida. Basta caçar todas as frutas que existem no jogo, o
que aumenta um pouco a exploração, mas estas são bem mais fáceis de achar do
que os lagartos de cauda branca.
Apesar de
ser um jogo único, que foge ao rótulo de “só mais um jogo de aventura
genérico”, é impossível não traçar um paralelo com Zelda, e é por isso que
muita gente o considerou um plágio do clássico da Nintendo. Porém essa acusação
não tem o menor cabimento. O único título de Zelda que realmente lembra Shadow
of the Colossus é o Twilight Princess, que teve seu lançamento quase simultâneo
ao de SotC no ocidente. Tanto os cenários quanto a trilha sonora são
incrivelmente semelhantes, mas acontece que é mais fácil Zelda ter copiado
Shadow of the Colossus do que o contrário porque a versão japonesa de SotC foi
lançada em 2005, enquanto Twilight Princess foi lançado no ano seguinte. Bem,
TP também possuía seu lançamento marcado para 2005 (mas foi adiado, como
sempre), portanto não houve plágio de nenhum dos dois lados. Os dois jogos são excelentes
a seu modo e não existem motivos para comparação nem rivalidade.
"Thy next foe is..." |
Falando em
bugs, o game possui alguns glitches bem bizarrinhos, mas nada que mereça muita
atenção. Exceto um que pode travar o seu jogo. Quando eu estava explorando o
mapa procurando por lagartos, em um momento fui pular montado no cavalo por um
pequeno penhasco, como os vários que existem espalhados pelas planícies da
Terra Proibida. Se o morro não for muito alto, o cavalo pula dele sem
problemas, e se tiver altura demais, o cavalo para na beira do abismo e se recusa
a pular (bem parecido com Zelda). Mas quando fui pular por um de altura
mediana, o jogo não sabia se fazia o cavalo pular sobre ele ou não. Resultado:
eu e o animal ficamos presos no ar, com o cavalo ainda galopando enquanto
flutuava a poucos centímetros do chão. Tentei de tudo, apertei todos os botões várias
vezes, mas não tinha jeito, estávamos presos. Não tinha como sair dali, nem
salvar o jogo. Tive de resetar e perder todo o meu progresso desde a última vez
que salvei. Portanto, se for jogar, lembre-se de salvar sempre e tomar cuidado
quando se estiver galopando.
Por mais que
a jogabilidade seja algo além da compreensão, ela não chega nem perto do que
eles conseguiram fazer com a câmera. Em um game de aventura como Shadow of the Colossus, compreender o
ambiente à sua volta é essencial para se vencer os desafios. Então como eles
poderiam estragar algo como a câmera do jogo? Ela é completamente solta e você
pode controlá-la usando o analógico, exatamente como na segunda versão de Metal
Gear Solid 3, o que é ótimo, só que está longe de ser algo perfeito como em
MGS. Ela sempre escolhe os piores ângulos possíveis, não deixa você olhar pros
Colossos direito nem olhar em volta da maneira que quiser. E quando você tenta corrigi-la,
ela é reajustada pelo jogo, o que torna a opção de controlá-la quase
descartável. Até existe a opção no menu de desativar essa autocorreção, mas eu
descobri isso tão tarde que já tinha quase me acostumado com a câmera.
Eu já me peguei olhando pro chão muitas vezes
quando eu queria olhar pro Colosso, ou o contrário, olhando pra cima, mas com a
câmera muito perto do chão, o que é horrível. Ela devia estar sempre atrás do
ombro do protagonista. É por causa de problemas assim que foi criado o sistema
de lock-on – ou trava de mira – em Zelda. Você aperta um botão e a câmera fica
fixada no inimigo, e todas as suas ações são automaticamente voltadas a esse
inimigo. Até existe um sistema semelhante em Shadow of The Colossus, mas a
câmera sempre escolhe ângulos horríveis. Por causa disso, eu não consigo olhar
o Colosso direito ou de corpo inteiro, e quando consigo, o meu personagem
desaparece da tela. Já
em Zelda, a trava de mira funciona tão bem que é impensável como qualquer jogo
na face da Terra possa utilizar um sistema diferente desse. A
câmera admite um ângulo perfeito onde você consegue ver tanto o protagonista
quando o inimigo de corpo inteiro na mesma tela. Mas em SotC isso quase nunca
acontece, o que faz você de sentir estranho.
A pior
parte é que ela bate nos objetos do cenário como se fosse algo físico que
realmente existisse no jogo, como se houvesse uma câmera flutuante te seguindo
que pudesse bater em qualquer coisa que passasse perto. Se você estiver muito
próximo a uma pilastra e tentar virar a câmera, ela bate nela e para. Eu
nunca vi nada igual a isso. É como se ela não pudesse contornar o objeto ou atravessá-lo. Acho
que nunca mais encontrarei a câmera perfeita de Metal Gear Solid 3: Snake Eater
– Subsistence. Será que é tão difícil assim fazer uma que seja tão perfeita
quanto aquela?
Enfim, a
jogabilidade e a câmera nesse jogo estão longe de ser intuitivas e vão fazer
você questionar todas as suas habilidades como gamer. Eu sinceramente não sei o
que eles estavam pensando quando bolaram esses comandos.
Agora, a
trilha sonora do jogo. Ouça Revived Power, minha música preferida da trilha, que eu não preciso dizer mais nada:
Mas vou
dizer mesmo assim. Essa é a trilha mais bela, mais densa, mais épica e mais
emocionante que eu ouvi em muito tempo. E não é só isso. Cada uma das músicas
possui todo um sentimento por trás. Algumas te fazem se sentir o maioral
enquanto escala os colossos e os nocauteia sem piedade. Outras fazem você se
colocar no lugar deles, sentir pena e quase – eu disse quase – ir embora e
deixá-los em paz. Não é todo dia que se tem a oportunidade de se ouvir uma
trilha sonora como a de Shadow of the Colossus. Se é verdade o que dizem
sobre a essência de cada jogo estar contida em suas músicas, eu não tenho como
negar isso em SotC.
Para finalizar,
o jogo possui uma das maiores e melhores atmosferas que eu já presenciei. Você vai
se sentir completamente imerso cavalgando pelas planícies ou se esgueirando
pelos territórios dos colossos enquanto trava algumas das batalhas mais épicas
de todo e qualquer vídeo game já criado. E quando eu digo imersão, estou
falando de algo do nível de poder sentir o pelo deles tocando a sua mão ou a
superfície rochosa dos gigantes enquanto faz o personagem na tela escalar os
seus corpos. E, acredite em mim, não é sempre que se pode ter uma experiência
como esta.
Shadow of the
Colossus é a aventura única e emocionante que não pode ficar de fora do seu
currículo gamer. Contém ação, diversão, romance e certa dose de suspense, e
ainda por cima possui um final cem por cento original que foge aos finais
convencionais da maioria dos games e vai te deixar de queixo caído. Apesar de
ter alguns detalhes que incomodam ou atrapalham o seu aproveitamento, vale a
pena passar por isso e experimentar aquele que é considerado por muitos o
melhor jogo da biblioteca do PS2, agora também para PS3.
Fatores
ruins:
-
Jogabilidade inimaginavelmente bizarra
- Câmera infeliz
- Overworld
vazio
- Ausência
de NPCs
- Quest
principal repetitiva
Fatores
bons:
- Belíssima
trilha sonora
- Gráficos
excelentes
- Cenários naturais
- Overworld
colossal
- Boss
battles épicas
-
Excelentes designs dos colossos
- Variedade
estratégica
- Atmosfera
fantástica
- Nível de
dificuldade crescente
- Imersão
Nota: 95/100
Parágrafo-resumo (agora colocarei um resumo no final de cada post para
os preguiçosos que não têm saco de ler tudo):
Comprei
SotC para PS3, um dos jogos mais imersivos e épicos já criados. Nesse jogo,
você precisa destruir 16 seres gigantes (os colossos) para devolver a alma a
uma mulher morta. A história por trás é original e o final é inesperadamente
diferente. A imersão é tamanha que você poderá sentir os pelos dos gigantes na
sua mão enquanto os escala. O overworld é o maior que já existiu, mas é vazio. Não
existem inimigos além dos chefões. A única exploração se dá pelos lagartos, que
aumentam a sua estamina, e pelas frutas, que aumentam a barra de vida. Os
cenários e a trilha sonora são pontos altos do jogo. A jogabilidade e a câmera
são seus únicos pontos baixos e leva-se muito tempo para se acostumar a estes
aspectos. Apesar disso, Shadow of the Colossus é um clássico e um dos melhores
jogos para Playstation de todos os tempos.
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