segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Shingeki no Kyojin

FanArt fodásticamente excelente que superou os traços do mangá

    Eu queria ter esperado um tempo antes de começar esta resenha e terminar a de outros mangás antes, mas isso não foi possível. Shingeki no Kyojin me deixou muito empolgado. Não por causa dos primeiros capítulos, mas nos volumes posteriores. Confesso que fiquei meio preconceituoso com ele no início, mas depois me surpreendeu muito. É um mangá recente, lançado apenas no final de 2009 e que vem fazendo um sucesso estrondoso lá fora. E não é à toa. Já entrou na minha lista de dez melhores mangás.
    Com um traço um tanto amador se comparado aos outros, Ataque dos Gigantes (tradução tosca) ganhou o coração do público com sua história diferente e original, cheia de reviravoltas e surpresas. Se passa em algum lugar do passado, em uma comunidade humana que é assombrada por gigantes. Para afugentar essas criaturas, os humanos construíram um muro de cinqüenta metros em torno da cidade, o que julgaram ser o bastante para contê-los. Eis que um dia aparece um gigante ainda mais alto que o muro e abre um rombo grande o bastante para que outros menores entrassem na cidade, espalhando terror e promovendo o caos.
    Os humanos desta parte da cidade, então, migram para as camadas internas dos muros, que eram divididos em três círculos, abandonando de vez o círculo exterior. Uma das pessoas que vivem esse terror é Erhen Jaeger, cujo pai simplesmente sumiu e a mãe foi engolida por uma giganta (o que foi visto pelo próprio garoto). Agora ele está sozinho, e a única coisa que lhe resta é sua irmã, Mikasa, que na verdade foi apenas criada com ele. Os dois serão os protagonistas dessa história.
    O traço, como já citado, é um pouco amador e meio inferior se comparado ao de outros mangás. É tudo muito rabiscado, mas nada que o faça ser ruim. Os gigantes possuem um design estranho, seus corpos são volumosos e seus braços e pernas, finos. Mas o ponto alto do quesito arte com certeza são as feições dos titãs, todas muito variadas. Alguns se parecem com seres humanos perfeitamente normais, outros possuem rostos bizarros parecidos com caveiras. A grande maioria tem um rosto um tanto caricato, o que pode contribuir para a sua aparência forte e assustadora. Ao contrário da maioria dos mangás, Shingeki no Kyojin não abusa das páginas duplas nem das páginas inteiras, o que é bom, apesar de eu gostar de desenhos que ocupem uma ou duas páginas. Essa FanArt que ilustra a capa do post conseguiu ficar melhor do que o próprio mangá, algo que não aconteceria com obras do nível de Berserk, por exemplo.


Erhen Jaeger cara-a-cara com seu maior inimigo

    O clima é extremamente depressivo e ás vezes chega a ser meio apocalíptico com a idéia da aniquilação iminente da humanidade pelos titãs. Muitos dos humanos são completamente pessimistas e o leitor não sente em momento algum de que haverá alguma esperança de a humanidade superar esse desafio. Um único gigante é capaz de causar um dano irreparável na cidade e na moral das pessoas, considerando que eles fazem parte de alguns dos inimigos mais fortes da história dos mangás, sendo praticamente invencíveis diante de uma tropa inteira de soldados humanos.
    Os titãs possuem um comportamento bizarro. Ninguém sabe de onde eles surgiram ou qual o seu objetivo, só se sabe que desde que apareceram, tudo o que fazem é caçar humanos para comê-los. Só se alimentam de humanos, nada mais, de modo que podem ser vistos convivendo com animais pacificamente. Não interagem entre si, parecem não possuir linguagem, não demonstram medo da dor e nem inteligência, agindo por puro instinto. Mas são incrivelmente fortes. Não possuem órgãos sexuais, logo também não se sabe sobre seu modo de reprodução (mesmo que existam machos e fêmeas na espécie). Possuem capacidade regenerativa e a pele de alguns é tão quente que chega a sair vapor dela. Seu ponto fraco é na nuca.

O Titã Colossal diante das muralhas protegidas por canhões

    A gama de personagens é bem variada e muito bem construída, cada um deles possui personalidade forte e são todos bem caracterizados. Erhen possui uma personalidade impulsiva, como é o comum em personagens de mangás. Ele visa dizimar todos os gigantes da face da terra para vingar sua mãe, mas seu grande sonho é o de explorar o mundo do outro lado da muralha, que permanece um mistério para a maioria das pessoas. Sua meia-irmã, Mikasa Ackerman, é o seu extremo oposto: calma, paciente, serena e muito mais forte que ele, sendo considerada o soldado mais forte e mais capaz de derrubar os gigantes (o que é de se espantar, já que ela ficou assim graças a ele). Seu principal objetivo é unicamente proteger Erhen.
    Outros personagens interessantes são Armin Arlert, amigo de infância de Erhen e Mikasa, sendo sempre protegido pelos dois por ser o mais fraco, mas possuindo uma mente brilhante; Sasha Browse, que contribui para a parte cômica da série com sua personalidade gulosa (ela é praticamente uma Magali do mundo dos mangás); Cabo Levi, o melhor soldado e mais qualificado – depois de Mikasa, óbvio –, bem parecido fisicamente com Erhen, mas não o bastante para ser confundido com ele (o corte de cabelo é diferente e o olhar de Levi é bem mais melancólico e depressivo), entre muitos e muitos outros...
    Todos os personagens que protagonizam a série são militares prontos para morrer em prol da humanidade e utilizam diversos equipamentos especiais para lutar de igual para igual com os gigantes. Coisas como galões de gás para voar momentaneamente, fios com ganchos para escalar os enormes muros, espadas retráteis para fatiar a nuca dos gigantes são ferramentas básicas no arsenal de um soldado do único refúgio humano restante. Armas de fogo também existem, como espingardas ou canhões para defender as muralhas, mas são pouco usadas, já que não surtem muito efeito contra os titãs.
    O autor demonstrou ter plenos conhecimentos de mecânica e aerodinâmica ao projetar os equipamentos e toda a estrutura da cidade. Entre os capítulos, podemos ver instruções detalhadas de como funciona cada equipamento usado, como são construídos os canhões e como se fabricam suas balas, de que material são feitas as espadas, como é o treinamento dos iniciantes no combate contra os gigantes, etc. Tudo foi milimetricamente pensado para tornar a história o mais verossímil e coerente possível.


    Até determinado ponto, tudo parecia perdido e não havia esperanças de a humanidade conseguir uma única vitória sobre os gigantes. Até que...

ATENÇÃO: SPOILERS! – Se não quiser descobrir revelações comprometedoras sobre o enredo, pule o parágrafo a seguir.

    ...Até que o personagem principal descobre que pode se tornar um gigante bombado com cara de metaleiro e quinze metros de altura. Na verdade ele não exatamente se transforma em um, mas consegue controlar um corpo gigante para lutar em igualdade com os outros titãs (exceto o Titã Colossal, que tem 60 metros). Pelo que ficou entendido, Erhen possui esse poder por causa de algumas injeções que seu pai lhe dava a força quando era criança, mas nunca explicava do que se tratava, o que faz lembrar um pouco a história de Hulk. Mas ao invés de se transformar quando está com raiva, Erhen precisa perder uma parte considerável de seu corpo pra se tornar um gigante. No início, os outros humanos o temem por causa disso, mas depois passam a usá-lo como arma para lutar contra os titãs e, com isso, a humanidade consegue sua primeira vitória em anos, com o fechamento do buraco na muralha externa e a retomada da camada mais externa da cidade.

Fim dos SPOILERS. Pode ler tranquilamente a partir daqui.


   
    Mesmo não sendo uma história de teor moralista, Shinjeki no Kyojin possui sim algumas lições de moral, e eu acho que a principal delas é a perda da união humana (o que soa mais como uma crítica). Ao contrário de outras histórias mais convencionais, onde a humanidade se une para derrotar um inimigo em comum, aqui isso não acontece na prática. Mesmo tendo os gigantes como problema principal a ser resolvido, os humanos não permanecem unidos. O enredo é recheado de intrigas internas e muitos dos personagens são egoístas ou se consideram superiores aos outros. No entanto, aqueles que realmente o são não se consideram assim e nem agem como se fossem.
    Entre muitas surpresas e reviravoltas, a história oscila entre passado e presente. Ás vezes isso pode ficar meio confuso, mas é questão de costume para os leitores que ainda não estão familiarizados com essa forma diferente de contar história. O mangá começa na infância dos protagonistas, pulando em seguida para o momento em que eles já fazem parte do exército, apenas para mostrar depois como foi seu treinamento e como cada um foi aprovado e seguiu seu caminho a partir daí. Não apenas esse formato de enredo, mas também muitos acontecimentos inesperados fazem de Shingeki no Kyojin um mangá anti-clichê que já pode ser considerado cult.

    Até onde se sabe (leia-se: até onde eu sei) nunca antes na história dos mangás uma estréia precoce como essa fez tamanho sucesso. E foi um sucesso merecido. Shingeki no Kyojin ainda não terminou e seu quinto volume foi lançado há pouco tempo. É uma série incrível que conseguiu posições privilegiadas nas listas de mangás mais vendidos no Japão de maneira humilde e com um ar amador, mas feita com muito cuidado e esmero. Eu sinceramente espero que ela receba uma versão animada muito bem tratada e que respeite a história. O autor com certeza deve estar orgulhoso de sua obra agora. Só resta saber se ele será generoso com os fãs na hora em que fizer o final desta aventura.


4 comentários:

  1. esse foi uma das melhores analises sobre esse manga que li a te agora (português, inglês e italiano ;S)
    parabéns retratou muito bem a historia!!

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    1. Parabéns!
      Visitei vários sites procurando por uma boa resenha sobre esse mangá único, e afirmo que só aqui encontrei uma análise tão bem feita sobre essa obra.

      Vamos ver o que nos aguarda nos próximos capítulos..

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  2. Parabéns pela belíssima escrita e pela fidelidade ao autor... Estou pesquisando Shingeki em formato de anime na Pós Graduação e, realmente é uma história incrível! Abraço!

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