terça-feira, 5 de abril de 2011

Sucker Punch


    Nesse bom fim de semana que passou veio a tão desejada oportunidade de assistir Sucker Punch e testar todas as minhas expectativas sobre o filme. Quero que fique claro que boa parte da construção da minha opinião sobre ele foi baseada e influenciada naquilo que eu vi após assistir aos trailers, pois, como todo mundo sabe, a melhor parte de se ganhar um presente é receber o embrulho e ficar imaginando em cima daquilo o que há dentro dele. Com filmes e afins não é diferente. O tamanho e o formato de uma embalagem podem criar toda uma expectativa sobre um determinado presente, bem como o trailer de um longa. Mas isso não é sinônimo de decepção.
    Julgando pela quantidade de anúncios do filme feitos lá fora (porque aqui, no país do futebol, o filme foi pouco ou quase nada divulgado), a intenção do diretor e produtores era impressionar o público e trazer o máximo de pessoas correndo para as salas de cinema. Claro, essa é a intenção de toda produção. Mas com trailers como esses, exagerados e apelativos, Sucker Punch merecia uma posição de destaque apenas por parte dos anúncios. Aliás, era tanta coisa, trailers, vídeos, cartazes, pôsteres, que apenas a parte da divulgação já era o bastante para deixar o espectador satisfeito antes mesmo de ver o filme. E o grande problema de um anúncio bem feito é que, ás vezes, ele acaba sendo melhor do que o filme em questão.
    Felizmente esse não foi o caso de Sucker Punch.


    O que devo dizer, primeiramente, é como o filme é parecido com o trailer. Foi um dos poucos que conseguiu mostrar exatamente o que o filme é, fazendo um resumo dele, mas sem revelar muita coisa. O filme é, praticamente, idêntico ao trailer e, ao mesmo tempo, muito diferente do mesmo e isso é algo que eu ainda estou tentando entender. No início você quase não acredita que o filme já começou. Tudo acontece muito rápido, em algo que parece um resumo da história por trás da história, mas com razão, já que é muita coisa para se contar em pouco tempo. O espectador apenas pode interpretar o que aconteceu através das imagens sombrias da introdução, que vem acompanhada de uma narração com um texto inigualável. Tudo tem um tom muito lisérgico, mesmo estando na realidade. Com bastante freqüência você reconhecerá as cenas mostradas nos trailers, reforçando a idéia de que os mesmos são um resumo do filme. O enredo é dotado de um clima depressivo, aliás, estamos falando de uma história relativamente triste.


    Tudo começa quando a mãe da protagonista (interpretada pela belíssima Emily Browning) e de sua irmã mais nova morre de causas que não são reveladas ao espectador. O padrasto da garota, de olho na herança deixada pela mãe para as duas filhas, resolve matá-las para ficar com a grana. Percebendo o perigo, a protagonista tenta fugir com a irmã, o que obviamente acaba não dando certo, acarretando na morte da filha mais nova e na internação da mais velha em um hospício. A partir daí, a vida da garota é só ladeira abaixo. Trancafiada no hospício e sem chance de ter sua vida de volta, ela terá de conviver com todas as internas, Madame Gorski, a sombria enfermeira, o pervertido diretor do manicômio e mais um cozinheiro tarado. E, pra completar, o médico responsável pelas operações de lobotomia chega em cinco dias para operá-la a pedido de seu padrasto. Era o fim para Baby Doll, nome que ela recebe dentro do sanatório.
    Passado algum tempo, ela faz amizade com quatro garotas que já estavam lá antes dela, todas com nomes exóticos. São elas Rocket (Jena Malone, de Donnie Darko), Sweet-Pea (Abbie Cornish, de Brilho de uma paixão), Blondie (Vanessa Hudgens, de High School Musical, eu me envergonho em dizer) e Amber (Jamie Chung, de Dragonball Evolution, eu me envergonho mais ainda) , todas atrizes lindas e bem selecionadas para os papéis. No começo, elas não são lá muito amigáveis, mas acabam se rendendo ao carisma e meiguice de Baby Doll, consolando-a nos momentos difíceis. Todas se ajudam e se mantém unidas para sobreviver ao clima tenso e hostil do manicômio, que é um lugar muito instável. Ás vezes, as situações chegam a ser desesperadoras e as coisas explodem. Pessoas discutem, brigas acontecem. Todas as meninas estão cercadas por um lugar cheio de desesperança. E é aí que a protagonista se destaca, descobrindo que pode deixar esse mundo frio e sem vida de lado, refugiando-se dentro de sua mente.
    E é em uma dessas viagens à dimensão da imaginação que ela arma um plano que pode tirá-las todas dali com a coleta de cinco itens especiais, sendo eles um mapa, fogo, uma faca, uma chave e mais um quinto elemento que é desconhecido. E é durante essas “missões” para coletar todos os itens que Baby Doll se aventura nos confins de sua mente e cria todo um mundo imaginário capaz de libertá-la dos grilhões da realidade. Fantástico, não?


    Para que o espectador consiga diferenciar com facilidade o real do imaginário, foram criados contrastes entre os dois mundos. A realidade é muito fria, sombria e deprimente, enquanto o mundo do imaginário é muito caloroso e ilusório. Os dois mundos usam películas diferentes para mostrar o contraste entre prisão e liberdade e a transição entre um e outro é muito bem feita. Também vale ressaltar os efeitos especiais e áudio-visuais construídos nas cenas de ação e aventura que se passam no mundo fantasioso criado por Baby Doll. Tais cenas não têm relevância alguma para o entendimento do enredo, tendo como única função o lazer. Aliás, o filme é todo em cima disso, já que a adrenalina serve apenas para divertir nos momentos entre aquilo que é mais importante: o desenrolar da história e as interpretações mais profundas por parte do espectador em cima do roteiro cheio de mensagens subliminares.
    Então poderíamos dizer que as cenas de ação desenfreada e violência gratuita são apenas a cereja no bolo, ao contrário do que o trailer nos faz acreditar. Ou seja, não é um filme sobre cinco garotas vestindo roupas apertadas e lutando contra dragões, robôs, samurais e zumbis nazistas em seqüências de ação super apelativas, mas sim um filme sobre a dura realidade na vida de uma garota trancafiada em um hospício depois de perder todas as pessoas que amava e ver as esperanças de ter uma vida feliz se desmanchando diante de seus olhos tendo que fugir de uma inevitável lobotomia. O resto é só um pretexto para a adrenalina e o divertimento gratuito. Em sua essência, o filme é muito mais do que isso.


    Mas o filme vale por isso também. As cenas de luta são maravilhosamente bem coreografadas e super produzidas. O visual fantástico é bastante agradável aos olhos e os efeitos estão mais do que satisfatórios. Mas apenas será uma novidade para quem nunca assistiu algum filme do diretor Zack Snyder, como Watchmen ou 300. Pra quem já viu, poderá parecer mais do mesmo.
    Um detalhe interessante a ser analisado seriam as referências e críticas que o filme possui escondidas nas entrelinhas, podendo apenas ser captadas pelos olhares mais atentos. O padrasto maligno da protagonista era um padre. Na primeira missão que as meninas devem realizar para adquirir o primeiro item da lista, elas devem lutar contra zumbis nazistas para reaver um mapa que está nas mãos de seu líder. O hospício em que o filme se passa lembra muito um campo de concentração. Esses fatores me fazem lembrar muito de 9 – A salvação, de Tim Burton, em que existem as mesmas referências e de onde poderia ter vindo uma possível inspiração.
    Destaque para a trilha sonora, que abusa de músicas excelentes, como Sweet Dreams, e para Carla Gugino (mais famosa por seu papel como mãe dos Pequenos Espiões) que interpreta madame Gorski, que, apesar de pagar uma de vilã nos trailers, revelou-se a grande heroína do filme.


    Sucker Punch foi um filme que impressionou por conseguir juntar, em uma única história, fatores diferentes vindos das mais diversas linguagens cinematográficas, como é o caso do clima noir, da atmosfera de filmes de ação e aventura, dos elementos de ficção científica e até mesmo uma pitada de elementos inspirados em mangás e videogames. Foi o fato de ele ser bastante eclético e uma mescla de várias coisas que fazem sucesso que o fez chamar a atenção de tanta gente. Sucker Punch não é clichê, é épico. E é o modo como ele torna diferente a maneira de se fazer uma história que o faz deixar de ser clichê. Sua narrativa pode não ser a mais original do mundo, mas com certeza é diferente de muitas que você já viu. Portanto, se você viu o trailer e gostou, corra para o cinema mais próximo antes que seja tarde de mais. E é melhor se apressar, pois a cada semana que passa as opções ficam mais limitadas.
    Zack Snyder (que agora acaba de se tornar meu mais novo ídolo) se tornou um dos grandes diretores da atualidade, trazendo novas surpresas a cada novo filme. Podemos apenas esperar para ver se ele levará a história fantástica de Sucker Punch adiante, para explorar melhor este mundo magnífico que ele criou, ou criará filmes ainda mais fabulosos e mirabolantes que superem essa obra prima do gênero. Com muitas referências legais e traçando pontes entre o imaginário e o real, Sucker Punch teve um desfecho de ouro em um final que ainda poderia ser aproveitado como gancho para novas histórias. O filme está aí. As referências foram feitas. O resto é você quem interpreta.

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